domingo, 22 de fevereiro de 2009

EQUAÇÕES

Existem jovens cujo hipotálamo é fudidamente mais estimulado por um jogo eletrônico do que por uma garota de 18 anos, com mais experiência sexual, e aparentemente sem nenhum tipo repreensão em compratilha-la. O que faz as acnes desses construtos humanos automizados brilharem é a capacidade com que as malditas calculadoras superdotadas, pós revelocução tecnológica, localizadas em cima de suas mesas podem esquadrinhar e reduzirem em instantes a reação e o comportamento do homom sapiens. Em outras palavras, jogos de hiperrealismo; a companhia ideal para qualquer cretino rejeitado de 15 anos de idade.
Fodam-se, a sociabilização da juventude não é o mérito desse texto. O assustador é saber a capacidade de um maldito CPU, que pode ser encontrado em qualquer camelô, esquadrinhar as ações e coportamento de um homem, em média qualquer um. Seria mérito da máquina? No final das contas, a única coisa que ela faz é resolver equações em velocidades mais velozes do que é possível piscar. Nesse caso, se estamos vendo uma reprodução em stricto sensu de nossas vidas em uma tela de cristal líquido em representações bidimensionias é pela nossa falta de capacidade de agir de modo ignorado pelos dados infurnados nos malditos chips.
Isso me enoja. Quer dizer, pensar na possibilidade de estarmos em padronização cultural demente e espetacular ao ponto de cada batida cardíaca ter sido ritmizada e prevista por um ábaco elétrico. Sintéticamente (aliás, essa palavra parece ser a mais ideal), o script está ai, em todos os equipamentos passíveis de transmissão de informações, e a capacidade de um jogo ser hiperreal é diretamente balanceada na nossa falta de habilidade de improvisar, e trapacear o roteiro. O jogo está fora da tela, está nas ruas, nas mesas de jantar, nos parques de diversões, no sexo, na crueldade e na filantropia; em qualquer relação entre seres vivos.
Não é a primeira vez em que penso isso, então estou bastante convicto. Uma simples digressão questinadora socrática, elevada a um sincronismo populacional poderia fazer cair toda a nossa sociedade ocidental. Entretanto, como as chances de que a única coisa que viremos fazer nesse nível de coletividade será uma matança ou suicídio em massa (e obviamente a máquina já esquadrinhou isso também, para quem quer esteja inserindo os dados), espero angustiado a próxima guerra mundial, que irá girar o fluxo econômico e sanar as crises. Duvido que alguém vire um mictório ao contrário até lá.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Memória Ectoplasmática



Estou há três dias sem dormir dentro desse quarto. Casulos de inseto nas paredes, cinza de cigarro por todos os lados, garrafas de vodka vagabunda, embalagens de CD com resíduos de cocaína, fitas cassetes, cadernos e folhas e mais folhas escritas à caneta bic. “O homem é mais belo que seu parasita intestinal – foi o que a professora de biologia escreveu na lousa naquele primeiro dia de aula...”. Pelo visto, eu tentei escrever durante esses três dias. Mas aquilo tudo era uma grande bagunça, como o quarto, como meu corpo, a minha cabeça...

E a minha cabeça está doendo neste exato momento e o telefone... o telefone está tocando:

– Alô?

– Thomas?

– Sim...

– Você está brincando comigo? Quando você volta a trabalhar? Já se foram mais de duas semanas...

É meu chefe. Eu disse a ele que tive um colapso nervoso e consegui uma licença de uma semana do médico. Ah, sim, eu quero mais é que meu chefe, meu serviço e todos os respeitáveis trabalhadores do mundo se fodam.

– Eu ainda não sei – retruquei –, estou me sentindo mal pra cacete, minhas mãos tremem, vou ao banheiro a cada dois minutos... espumei pela boca um treco esverdeado hoje de manhã, sabe...

– Eu não quero saber dessa palhaçada, Thomas...

– Me escuta... me escuta... eu acho que estou virando... um.. um... UM INSETO!!!

Desligo o telefone na cara do imbecil sem conseguir conter uma gargalhada histérica que me derruba no chão e as coisas ficam mais engraçadas ainda porque durante a queda espatifo com o braço uma das garrafas de vodka e um belo corte de cinco centímetros surge nas costas do meu antebraço. Fico ali, rindo, deitado de barriga para cima, sem me tocar da gravidade do ferimento, enquanto o sangue vaza das minhas veias... ah, meu deus... como é fácil morrer... é só ficar aqui esperando, a vista ficando mais e mais nublada, as forças se esvaindo... Ô CARALHO! – me levanto do chão como num susto: DEUS, SEU FILHO DE UMA ÉGUA, VOCÊ VAI TER QUE FAZER MUITO MAIS QUE ISSO PARA ME MATAR!

Estanco o talho no meu braço com uma toalha e me dou conta de que não há mais cigarros no quarto, na casa... puta que o pariu! – eu preciso de um cigarro e não tenho mais nenhum puto no bolso. É nessa hora que você dá o devido valor para aquelas bitucas, aqueles cigarros fumados pela metade que ficam ali no cinzeiro esperando pacientemente, porque eles sabem que você está sem dinheiro e uma hora vai ficar desesperado pela nicotina que somente ELES podem lhe prover...

As horas passam e Thomas entra em sono profundo. Mas, não, meus amigos, Thomas não morreu. Ele apenas está há três dias sem dormir, perdeu muito sangue e precisa de um bom descanso. Durma com os anjos, Thomas...

E durante doze horas seguidas Thomas teve pesadelos terríveis. Vocês nem imaginam que tipo de coisas Thomas viu em seus sonhos, que tipo de perversões... imaginem presenciar um homem muito parecido com seu pai defecando um buldogue branco; ver um hermafrodita negro violentar a boca de um sapo; ver seu próprio pênis ser tomado por um tipo de bolor azulado que causa uma coceira terrível; espremer pústulas prateadas extremamente esféricas e brilhantes que nascem nas costas de uma jovem atraente; dirigir um filme de ficção científica que acaba se tornando realidade, um filme-realidade em que alienígenas invadem a Terra e a humanidade está fodida de uma vez por todas, porque esses alienígenas são indestrutíveis e a raça humana será extinta desse Universo e a coisa apavorante do sonho é estar ciente de que não há saída, de que todos os seres humanos estarão mortos em pouco tempo e nunca mais veremos um novo dia, pois agora o planeta pertence àqueles que vieram de algum lugar muito distante...

E por horas e horas Thomas encharcou os lençóis de suor frio e sofreu algumas convulsões que levaram a sua memória ectoplasmática de volta aos primeiros anos de infância e ele se viu novamente jogando pedaços de pão velho na lagoa para os patos, mas era preciso acordar porque é muito perigoso retroceder de tal maneira no tempo, mas Thomas continuou... e acordou em um dia ensolarado, banhado pela luz cegante de uma estrela azul, em uma realidade completamente desconhecida por este que vos fala e é melhor não dizer mais nada antes que eles também venham me buscar por eu falar demais.


Hamilton Fernandes, Via Láctea, Tempo Terrestre, América do Sul, São Paulo, 17:57:09, 11 de fevereiro, século XXI D.C.


Imagem: www.devilsoap.com