terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Confessionários químicos


Tarde ensolarada de burburinhos crescentes no Centro Histórico de Santana de Parnaíba com funcionários públicos de repartições diversas se ocupando com os afazeres necessários para a festa. Pois o bar da esquina está com barricadas improvisadas para conter uma possível invasão de bêbados bárbaros quando soar o estilhaçar da última garrafa de cerveja vazia. Pois os adolescentes de pés ligeiros trepam em escadas de madeira a passar fios elétricos pelos vãos obscuros das paleozóicas janelas de mosaicos sujos da igreja matriz de sant’anna. Pois garotas magras e cabisbaixas carregam enormes frigideiras industriais de alumínio enquanto seus irmãos de estômagos musicais descarregam litros de óleo para fritura eternamente reutilizáveis. E quando o sol tardio escurecer ainda mais as estátuas corroídas dos bandeirantes abandonados, todas as luzes, as vozes distorcidas, todos os olhares incompreensíveis, os odores múltiplos contidos em um minuto cíclico não passarão de míseros incômodos ao cambaleante que dissimula sobriedade ao atravessar a rua e cruzar a esquina sacra em busca de algum confessionário químico.
... E rápido ele se aloja, com um descuidado estampido de plástico... prostra-se, cerra os olhos e aguarda o alívio.....hummmmmmmmm... a remissão dos pecados é plena e ininterrupta. Ajeita-se e cede o lugar a outro. E pela madrugada fria, homens santos tomam as estreitas ruas históricas em silêncio. Quase se pode ver algumas auréolas... Ou seriam postes de luz?

sábado, 26 de janeiro de 2008

Transistor



Transistor

uma lebre elétrica no cérebro - grama crescendo fez sua prece ao arco-íris - circuito força do poema - febre azul do coração - lacraia de aço viu um mar de labaredas - subversão político-sexual ardendo como um milhar de relâmpagos do motor de Urano - pedaços de ti estavam proibidos - dificilmente vagar por Saturno - eu destruí tudo na Terra que fosse além da humanidade da vida inteira foi um caos - o amor sendo consumido - eu disse em voz alta: "essa doença pode bem ter provocado..." - macacas terão sobrevivido para engordar - sonhei alguma coisa estudando o processo criativo e acredito que Deus! e as pessoas são feias - no princípio como café com lama era atômica - nunca permanecido um mistério - todos os meus conhecidos tem sido de fato puro esperma azul - a via-láctea existe como imagem no espírito - amplifica as dores caminhões gafanhotos vis - eu tantas vezes irrespondivelmente no céu da boca - descanso mental deteve galáxias entre trevos cambiantes - sistema alienígena de sonhos prateados - relatórios sobre o ventre onde dorme o duplo sexo - ribombo à esquerda e à direita - a riqueza da influência do sol da arte silenciosa - pelas nebulosas destruí tudo e não posso fazer nada - é o caos branco das galáxias - acender um cigarro um elevado índice de mortalidade - não consigo lembrar-me do mundo - cientistas matam-se aos poucos - eu amo formigas - e a palavra era Deus e desde então tantas vezes porco com uma imagem no espírito*.

Foto e Texto: Hamilton F.

* Cut-up feito a partir de textos de autoria própria e dos autores William S. Burroughs, Rimbaud, Fernando Pessoa, entre outros.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Para começo de conversa...



Acho melhor explicar resumidamente como tudo começou. Começamos a publicar uma espécie não-categorizada de publicação entre o segundo e o terceiro ano da faculdade na falta de um espaço para tal. A coisa começou com três sujeitos e evoluiu para onze colaboradores que pouco ou nada obedeciam a questões editoriais, tais como prazos e tamanhos de texto. Enfim, era uma puta bagunça... Mas acredito que foi a única do gênero que existiu durante toda nossa estada na faculdade, para o bem ou para o mal. As tentativas de ressucitá-la foram medíocres até que resolvi aceitar o blog na minha vida (outros aceitam Jesus, mas eu achei mais fácil aceitar um blog) e vamos ver no que dá. Esta aí é a capa da sexta edição do Analorgia. A foto foi tirada próximo a praça da Sé, em São Paulo. Textos de Marcelo, Fernando, Arthur, Hamilton, Rodrigo, André e Rafael.