terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Confessionários químicos


Tarde ensolarada de burburinhos crescentes no Centro Histórico de Santana de Parnaíba com funcionários públicos de repartições diversas se ocupando com os afazeres necessários para a festa. Pois o bar da esquina está com barricadas improvisadas para conter uma possível invasão de bêbados bárbaros quando soar o estilhaçar da última garrafa de cerveja vazia. Pois os adolescentes de pés ligeiros trepam em escadas de madeira a passar fios elétricos pelos vãos obscuros das paleozóicas janelas de mosaicos sujos da igreja matriz de sant’anna. Pois garotas magras e cabisbaixas carregam enormes frigideiras industriais de alumínio enquanto seus irmãos de estômagos musicais descarregam litros de óleo para fritura eternamente reutilizáveis. E quando o sol tardio escurecer ainda mais as estátuas corroídas dos bandeirantes abandonados, todas as luzes, as vozes distorcidas, todos os olhares incompreensíveis, os odores múltiplos contidos em um minuto cíclico não passarão de míseros incômodos ao cambaleante que dissimula sobriedade ao atravessar a rua e cruzar a esquina sacra em busca de algum confessionário químico.
... E rápido ele se aloja, com um descuidado estampido de plástico... prostra-se, cerra os olhos e aguarda o alívio.....hummmmmmmmm... a remissão dos pecados é plena e ininterrupta. Ajeita-se e cede o lugar a outro. E pela madrugada fria, homens santos tomam as estreitas ruas históricas em silêncio. Quase se pode ver algumas auréolas... Ou seriam postes de luz?

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