domingo, 29 de março de 2009

Index Librorum Prohibitorum da pós-modernidade

Notícia retirada do site Omelete:

HQ do Homem-Aranha gera controvérsia em biblioteca escolar nos EUA

Mary Jane de biquini escandaliza o Nebraska

28/03/2009 Érico Assis

Com puritanismo e tempo de sobra, a mãe de um dos estudantes da Norris Elementary School, na cidade de Millard, estado de Nebraska, reclamou em reportagem da TV local KETV que uma HQ do Homem-Aranha com imagens "sexualmente explícitas" chegou às mãos de seu filho, que tem 6 anos.

A mãe, Physha Svendsen, conta que o filho fez "Ohhhh!" e caras de espanto ao ver os desenhos de Mary Jane Watson fazendo poses de biquíni, em uma cena da HQ onde ela está sendo fotografada para um ensaio de moda. Em outra cena, ela aparece de costas nuas após acordar, nos desenhos de John Romita Jr. Segundo a mãe, a HQ é muito popular entre os colegas de seu filho.

O caso chegou à TV, o que agitou a coordenação da escola do filho da senhora Svendsen. Em declaração à KETV, a bibliotecária-chefe da escola disse que todos os livros passam por um processo de seleção rigoroso e que o caso pode ser resultado de uma mudança nos valores locais. Segundo a reportagem, a escola tem até 30 dias para montar uma comissão com professores, administradores e bibliotecários para decidir se a HQ fica na escola ou deve seguir para outro tipo de biblioteca.

sábado, 21 de março de 2009

Mais uma razão para gostar de Grant Morrison

"Nós desconstruímos nossos ícones. Sabemos que políticos são mentirosos filhos da puta, que astros da TV são viciados em cocaína, que os atores bonitos são malucos travecos e que as lindas supermodelos são bulímicas, neuróticas e caóticas. Sabemos que nossos comediantes prediletos vão virar alcoólatras pervertidos ou deprimidos suicidas. Nossos reality shows colocaram um espelho escaldante diante das nossas caras de babuíno e das nossas obsessões óbvias e ridículas pela sujeira mais baixa e a fofoca mais inútil.

Sabemos que acabamos com a atmosfera e matamos os doces ursos polares e nem temos mais energia para sentir culpa. Deixa os pedófilos levarem as crianças. Não há mais a quem recorrer ou culpar, fora, paradoxalmente, aqueles caras levemente medievais que começaram a revolução industrial. No que resta acreditar? O único homem de verdadeira moral, de verdadeiro coração que nos resta é um personagem fictício dos quadrinhos! Os únicos modelos seculares a serem seguidos em uma cultura progressista, responsável, racional-científica e iluminada são... Kal-El, de Krypton, mais conhecido como Superman, e seus descendentes multicoloridos.

Nosso objetivo era colocar Superman e seu elenco no coração de fábulas sci-fi que qualquer pessoa, de qualquer idade, poderia ler e entender, embora cada um fosse entender as histórias de um jeito. Se você acaba de perder seu pai, talvez você leia o que Clark Kent diz no funeral do pai dele e sinta um pouco de comunhão humana. Se você quer sentir como é ser adolescente, veja o fantástico desenho de Frank Quitely do jovem Superman na lua, com seu fiel supercão Krypto ao lado. Superman é nós mesmos, nos nossos sonhos. Ele vive nossas vidas, mas de forma épica. Essa foi nossa abordagem."

Fonte: http://omelete.com.br

sexta-feira, 20 de março de 2009





"Assaltem o Estúdio Realidade e retomem o universo"
William S. Burroughs

Arte de Banksy - www.banksy.co.uk

terça-feira, 17 de março de 2009

O instante vazio

Guardou a bagagem, conferiu novamente o número da poltrona, olhou para os dois lados e sentou-se ao lado do namorado. Apertou sua mão esquerda e deitou a cabeça sobre seu ombro. Sussurrou algo em seu ouvido – ele pareceu ter sorrido –, deu-lhe um beijo e saiu do ônibus enquanto os últimos passageiros se acomodavam. Ele ajeitou os óculos escuros no rosto, inclinou um pouco a poltrona quando ouviu um estalo no vidro. Do lado de fora, a namorada sorria para si mesma, acenava e voltava a bater no vidro. O namorado virou-se para o vidro e acenou sorrindo para a namorada. Mas o ônibus já se movimentava e a namorada havia ficado para trás, deixando o aceno do namorado para uma senhora gorda, que esperava seu ônibus na ponta da plataforma e encarou o gesto com desconfiança. A noite é cheia de instantes vazios.

domingo, 15 de março de 2009

Do berço para Marte

Assisti Watchmen recentemente. Como era de se esperar, não chega aos pés da obra original, mas essa espécie de síntese animada da maior graphic novel de todos os tempos pode configurar facilmente com um, senão o melhor, dos filmes do ano. A despeito de uma evolução de duas décadas na estética cinematográfica não ter alcançando os vôos textuais e imagéticos de Alan Moore, essa não é a questão.
“Um corpo vivo e um corpo morto têm o mesmo número de partículas. Estruturalmente não há diferença. Vida e morte são meras abstrações. Não me preocupo com isso”. - Dr. Manhattan.
Os mais positivistas dos médicos irão garantir que a morte nada mais é do que apenas uma patologia prestes a ser vencida. Por outro lado, esse sempre foi o problema do positivismo, tentar estruturar uma fundação extremamente racional em cima de dogmas completamente irracionais, como o medo da morte, por exemplo. O antropocentrismo é só uma terapia barata para todas as coisas que nos fazem cagar de medo ante suas respectivas inevitabilidades.
Eu gosto muito do Dr. Manhattan. Falar sobre um personagem favorito em Watchmen é muito complicado. Todos eles, cada um deles, são aspectos da humanidade, e versatilidades de uma psique, ou do que interpretamos dela. A fúria excessiva do Rorscharch, para manter o mundo com um sentido claro e nunca se desviar do "caminho certo" que separa o preto do branco, que contrasta veementemente frente à inércia cruel e arbitrária do Comediante, um produto auto declarado do seu meio. Ou Ozymandias, rompendo paradigmas, para o melhor ou para o pior, mas para a transcendência. Até mesmo o panaca do Coruja não nos deixa esquecer do quanto somos patéticos, mesmo quando nos sentimos dominados pelos outros aspectos mais nobres. Ainda assim, o Dr. Manhattan é o personagem mais agoniante e o mais intrigante. Meio passo de homem para Deus, e o quanto os seus pés balançam para esse espaço adiante. A única analogia que consigo fazer é com um bom banho, uma limpeza para higienizar e erradicar todas as odiáveis características humanas e seus conceitos limítrofes com mais idade que a consciência plena.
Quando curarem a morte, eles matam o planeta. É bem complicado...ou não.
"Na minha opinião, ela (a vida) é um fenômeno exageradamente valorizado. Marte se dá muito bem sem um único microorganismo. Sem vida alguma mas com degraus de trinta metros de altura, esculpidos pela areia e vento numa topografia em constante mudança, fluindo e mudando de direção ao redor do pólo em ondas de milhares de quilômetros. Diga-me, que benefício um oleoduto traria para a paisagem de Marte? Que benefício um Shopping Center traria para Marte? Você precisa me contar algo melhor do que isso para me convencer que o seu planeta azul é melhor do que o meu planeta vermelho". - Dr. Manhattan.
O ritual do luto é a maior prova de como o ego impede algumas das compreensões mais simples. "Na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma". -Lavoisier.
Eles chamam de fim. A mente nublada com o medo de conceber qualquer coisa diferente do habitual leva todas essas ovelhas bípedes aterrorizadas a imaginarem uma vida após a morte. Nada mais desnecessário. Que ao me enterrarem, plantem raízes alucinógenas acima de mim. Que meu corpo morto nutra o vegetal, que minhas partículas decompostas entrem em fusão com água e sais minerais, percorrendo as paredes de um xilema, em sua delicada arquitetura fractal. Que a planta prevaleça comigo dentro de si, até que um xamã, um escritor junkie, ou qualquer possível idiota faça um chá e o ingira. Minhas ex-partículas decompostas, agora não mais minhas, nem da planta e tampouco do possível idiota, mas da unidade que formamos, entrem em comunhão, através de alcalóides inibidores de monoamina oxidas, caótica com aquele sistema elétrico de sinapses. A unidade a prova de qualquer dualidade ou dialética, ou se preferirem, o retorno ao éden.
A vida após a morte existe, e é muito mais harmoniosa do que qualquer vislumbre histérico religioso. Se curarem a morte, interrompem um ciclo delicado, base da constante harmonia do planeta. É como recusar a amputar um membro gangrenado por gostar demais dele. Eu pergunto a qualquer positivista se é lógico deixar um membro estragado condenar o corpo todo. A morte é uma doença? Só se você não ousar a encará-la como uma cura.

domingo, 8 de março de 2009

A humanidade é um projeto falido...

...se você é um ser humano, sorria, sua vida é o último modelo antes da fábrica quebrar.