segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Trilha sonora do ano novo

Fala brother,


se tudo der certo você deverá estar aqui na próxima semana, ver com seus próprios olhos e julgar se o que falo sobre o caldo cultural dessa cidade é verossímil ou apenas exageros de um bairrista metropolitano. Aliás, adquiri um novo trunfo para o meu entusiasmo urbanóide desenfreado contra o seu ceticismo.

Claro que você já deve ter ouvido no Bar das Revelações, daquele ex-hippie, o João Evangelista. Uma verdadeira figura; todo mundo jurava que o cérebro dele tinha derretido durante os anos 60, principalmente depois daquela viagem de LSD e peyote, no natal de 69. Ainda acho que ele nunca voltou dessa viagem, pois ainda fala sobre o colapso do planeta numa grande estufa projetada pelas grandes corporações unidas sob o nome de Sete Cabeças do Dragão Vermelho S.A. De qualquer maneira, depois de quase 10 anos num sanatório público, e tocado de lá por um corte de verbas e uma futura privatização, João saiu obcecado com essa visão de construir um local onde “os selos deveriam ser rompidos”. Foi atrás de uns velhos amigos, agora enriquecidos pela criação de uma grande rede de comida indiana, e deu essa ideia de um bar, meio casa noturna, onde bandas alternativas e independentes locais poderiam se apresentar. “Os selos deveriam ser rompidos”: acho que o João já fomentava a distribuição de música digital e o colapso das gravadoras na mesma época em que esse brilho rondava a cabeça do Zappa.

O bar já tem uns cinco anos, e é freqüentado por um povo legal das antigas e uma molecada meio debilóide de hoje em dia, mas que tem certa veneração pelos caras mais old school. Acho que essa confluência, possibilitada pela onda retrô, explica o sucesso do lugar.

Bom, todo esse blá blá blá para te falar de uma banda formada com a ajuda do próprio João, só com gente ilustre das antigas, e que estreou no Bar das Revelações há umas três semanas e tem sido um sucesso inacreditável, lotando a casa em todas as apresentações. Evidentemente, esse é trunfo de que falei. Eles vão tocar novamente daqui umas duas semanas, e pretendo com esse show fazer com que você dê o braço a torcer à grandiosidade cultural daqui. Meu velho, você está intimado a assistir ao Finis Mundi!

O grande lance dessa banda é que ela é formada só por nego foda das antigas, e depois de ouvi-los, todo mundo pergunta “como é que esses caras nunca tinham feito nada juntos anteriormente?”. O batera, Denis Guerra, por exemplo, o cara batia cartão na Europa, principalmente Alemanha, França e Inglaterra. Depois, de um tempo, suas bandas não saiam do Oriente Medio e dos Bálcãs. Você lembra na época que ele lançou aquele álbum em duas partes, World War? Apesar de ser o ápice do sujeito, tinha um monte de resmungões falando que o apelo do cara era mais os equipamentos gigantescos e a concentração de solos e grooves totalmente retilíneos, todos em torno do mesmo eixo. Pois bem, a saída da Europa fez bem para ele, que incorporou uma influência mais sincopada do jazz e diminuiu bastante o tamanho do set up, não dando mais margem para as críticas de antigamente. Ele literalmente está fazendo “mais com menos” – pelo que ele me disse, lá no bar, ele projetou esse novo e mais conciso kit no Japão, depois do sucesso por lá de um outro disco dele, o Atomic Songs For Fat Man and Little Boy. Bicho, com o Fini Mundis ele dita o ritmo do som, tudo o que os outros caras fazem parece marchar em função grooves da bateria. E por mais que os compassos sejam quebrados, é incrível como as notas se ligam harmoniosamente. Aquele pequeno golpe de estado na América Central parece ter sido chamado por um conflito mundial bipolar. Uns mísseis caindo na Faixa de Gaza são sucedidos com muita precisão e classe por uma retomada de conflitos na Ásia. Realmente de cair o queixo!

Para formar uma cozinha mantendo esse nível, chamaram o Paulão Chagas para tocar baixo. Esse não mudou muito não. Continua tocando aquilo que a música pede, sem muita firula, dando aquela “liga” entre a sessão rítmica e a parte melódica. Mas quando tem espaço, o cara mostra que é um monstro das quatro cordas. Umas viagens no estilo daquele disco solo dele, gravado durante a década de 80, o Síndrome da Imunodeficiência Adquirida – puta merda, depois desse play ninguém mais ousou a subestimar o estrago que um baixo pode fazer numa banda de rock n roll. No geral, ele no Fini Mundis é bem isso, o link perfeito entre uma guerra tribal Africana com a posterior fome e morte de mulheres e crianças da região. E como eu disse, quando tem uma brecha detona algo virtuoso, como um Ebola ou Gripe H1N1, e rouba os holofotes.

Aliás, por falar em virtuosismo, é Alexandre Penúria que está tocando guitarra no Fini Mundis, lembra do cara? Autêntico guitar-hero, sempre falando de como o som dele se adaptava a qualquer tempo, e que, portanto, Penúria nunca iria sumir do mundo. O filho da puta sempre foi meio arrogante, estrela e as revistas o adoravam para estampar suas capas; coisa de guitarrista. Pelos menos, tocando com esses caras, agora aquele todo aquele lero de produzir um som que atinja qualquer pessoas em qualquer lugar parece mais real. Ainda adora um solo auto-indulgente, mas tem “jogado mais para o time” agora. Tá sabendo aproveitar o que o Guerra e o Chagas fazem para alavancar umas melodias bem “tapa na cara”. Depois daquela fase new age, morando nuns cantos tipo Serra Leoa e Camboja, trouxe uns elementos exóticos de lá e disse que pretende espalhá-los por todo mundo. Toca pra caralho, mas ainda é um egocêntrico de merda!

Bom, pau na bunda dele, porque que manda nessa banda, sem dúvida é o vocal, ninguém menos que o Thanatos Ceifa. Bom, falar qualquer coisa desse daí é chover no molhado. O cara é uma lenda! Todo mundo no meio sempre diz que sem ele nada andaria, estaria tudo ainda no zero. Desde os grandes até os pequenos, ninguém fica imune quando o cara é o assunto. Puta merda, o Blue Oyster Cult dedicou Don´t Fear the Reaper para ele! Charles Mason só foi se interessar por rock and roll depois de trombar com ele!O cara já era macaco velho quando tudo começou, e ainda sim, ninguém até hoje o superou. Claro, que sempre tem um falando em alguma revista sobre o lance da idade, de como utopicamente surgirá algum aventureiro melhor que ele, e tudo mais...mas, na boa? Todos esses caras calam a boca quando assistem o vídeo daquela apresentação do Thanatos na Guiana, em 1978. O modo como ele domina o público, como as pessoas simplesmente se entregam a ele...Claro que o nome dele sempre foi mais conhecido nos bastidores, - produzindo, dando forma a tudo o que já foi feito de bom - e nunca sua imagem foi muito mainstream, mas é como aquele crítico disse: “o som de Thanatos deixa as pessoas desconfortáveis , tocá-lo numa grande AM petrificaria uma cidade. Mas ao mesmo tempo, o som instiga, provoca , inquieta e faz as pessoas se mexerem, correrem atrás de algo, mesmo que não saibam direito o que é”.

Por incrível que pareça, quem tá empresariando os caras é o próprio João. Não me sentiria muito a vontade se um ex-interno de manicômio tivesse dirigindo meus negócios, mas quando o assunto é a banda, o cara prontamente incorpora uma sobriedade e obstinação admiráveis. Conversei com ele esses dias, e ouvi que a banda já tem todo um projeto estruturado para os próximos anos. Tudo já colocado no papel, por João, nos mínimos detalhes. Quando ele fala disso, torna-se profundamente coerente. “Fini Mundis está destinado a tomar conta do planeta, pois desde sempre essa banda é algo incrustado na existência humana esperando para acontecer, e finalmente as pessoas identificaram uma forma pra isso. Sem dúvida, mais do que nunca, e o Fini Mundis o que elas querem agora”.

Porra! Acabei me empolgando nisso aqui, mas ver essa banda é realmente inspirador. Te prepara então para deixar esses caras te darem um novo rumo, bicho! É o som dos novos tempos!

Abraços

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

agonizando em dois cliques...



os vermes da realidade sintética estão irradiando larvas catódicas em meus olhos. os vermes adultos devoram meu cérebro e tomam seu lugar. e quando percebo, não tenho nenhum pensamento não relacionado a essa colônia infestada no meu crânio...
as companhias publicitárias estão planejando instalar outdoors oníricos nos sonhos das pessoas. por se tratar de um ambiente onde espaço e tempo são elásticos, afirmam que essa campanha pode se revelar de grande economia. portanto, pode ser que da próxima vez em que estiver sonhando estar voando, isso seja um oferecimento de alguma companhia de seguros...
2012 é ano de eleição. ouvi dizer que militantes usarão os cadáveres de seus entes queridos falecidos para expressarem uma fidelidade partidária post-mortem. o TSE ainda debate sobre essa prática ser legal ou ilegal, pois não havia jurisprudência sobre ela. os marketeiros não consideram viável a tática no corpo a corpo com o eleitor, mas vêem muito potencial em enquadrá-la na campanha audiovisual. os restos da vovó, com uma mensagem de força para o município com aquele candidato de imagem irrepreenssível e uma música estilo John Williams não têm erro...

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

22:40

Seus olhos guardavam uma serenidade inabalável. Inclinou levemente a cabeça para acender o cigarro e retornou ao horizonte do cotidiano sob a névoa de nicotina, observando tudo sem qualquer vestígio de inquietação. Dava goles esparsos e se deixava consumir em silêncio pelas euforias alcoólicas, enquanto abstraía todos os ruídos do mundo para se concentrar em uma única voz. Nada dizia. Escutava com um interesse sincero e raro, não permitindo ao interlocutor outra reação senão se apaixonar imediatamente por aqueles olhos.

Quando se punha a falar, as calçadas inundadas de bêbados juvenis se dissolviam com o barulho dos carros, restando somente a luz amarelada do poste a iluminar seus lábios finos. E logo, todos os sentidos se perdiam por entre as nuances da sua voz sem que qualquer palavra fosse esquecida. Era capaz de arrancar do coração um desejo pleno pela vida, desde que esta fosse preenchida com a sua voz, desde que as diversas manifestações do seu sorriso pudessem ser vistas todos os dias.

E no passar inebriado das horas, quando todas as paixões foram silenciosamente confessadas, deseja-se um único beijo antes que a noite a leve embora e a madrugada lhe corroa de saudade. Um único beijo para que toda a cidade tenha o seu perfume e os sonhos acordados dos dias seguintes durem até o próximo encontro.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

A todos que comem lixo com uma finesse aristocrática. Os melhores artigos de predação popular estão no corredor da direita. Não tem erro, vocês verão pela genuinidade da dor exposta na vitrine.

Nobres glutões; devoram todo o brilho do mundo e o reconstroem à sua imagem e semelhança quando defecam. Conheço sua fisiologia, sua derme pútrida não suporta longa exposição à realidade.

Sei que a elite de sua corporação de repressão não perdoaria um toque libidinoso desprovido de joguetes e fins comerciais. Seria banido sob pena de reclusão mental, a base de inibidores químicos.

Na última semana um indigente foi levado para uma autópsia recreativa da jovem elite intelectual. Não conseguiram disfarçar o espanto, mesmo com os manuais de etiqueta, quando descobriram 20 moedas de ouro ao abrirem o coração daquela carniça anônima.

Como abutres políticos, tentaram regulamentar a exploração em nível fisiológico do vulgo. Evidentemente não compreenderam quando ao abrirem o segundo coração desprovido de nome encontram um jardim de bonsais.

Sob que ciência se legitimava essa anomalia? Seria ilegal guardar tesouros escondidos no coração, sem a devida taxação? Por deus, a que tipo de corrupção as classes baixas podem chegar?

Logo, haverá tributação sobre todo refúgio belo e particular revestido por 21 gramas de músculo. Os sacerdotes dirão que é pecado ostentar beleza não previamente aprovada por censores morais.

A única perspectiva permitida é a do olhar condicionado. Qualquer outra será prontamente repreendida com a desintegração em nível mental, como requer todo ato de subversão que abale a harmonia do mundo.

A lei do meio termo é sempre o guia vigente para qualquer problema. Branco não é permitido. Preto não é permitido. Cinza é a única cor possível; cinza é tudo o que deve ser sentido; cinza é a cor de Deus.

sábado, 20 de agosto de 2011

Vou provar pra você que é possível comer lixo e fazer arte. Que você pode queimar os livros da estante, beber um litro de vodka e vomitar do vigésimo andar. Que é melhor ser samambaia que poeta. Mínima dos ovários: 13ºC. Máxima: -130ºC.

Vou provar pra você que é possível cagar na porta do paraíso E que não há nenhuma metafísica nisso.

Existe um inferno no microondas. Existe um som que perfura o hímen e o tímpano.

Se lembra da nossa salada de ratos? Do nosso filho que não veio ao mundo? Sabe, o que me entristece é perceber que espirro igualzinho ao meu pai – o mesmo som, a mesma quantidade de muco lançada à mesma distância.

Já disse que às vezes sinto gosto de apocalipse na boca? Já disse que me dissolvo em manhãs frias?

Em 1996 eu fumava maconha no topo dos prédios E amaldiçoava todos os helicópteros lá de cima.

Onde começa e termina o desespero? Quantas eternidades?

A relação tempo-espaço é uma brincadeira de mau gosto. O tempo não vai curar essa ressaca.

Enfim, A chuva ácida dos sonhos...

Hamilton Fernandes agosto/2011

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Qualquer semelhança com fatos ou pessoas reais é mera provocação


Gazeta Pueril – dezembro de algum ano.

Artista performática underground rouba cena em festival

Em mais um ano de existência, o festival Avant Garde SWO, foi palco de uma grande surpresa na tarde de ontem. A expectativa inicial era a apresentação da banda paulista Franjinhas do Bem, de indieemopostrock. Entretanto, não foi o palco principal o que mais brilhou, sendo a tenda dos artistas undergrounds a ladra dos holofotes. Lá, por volta das 15h, a até então desconhecida e inexpressiva Nazaré de Jesus, apresentou um show sinestésico , e em pouco mais de 50 minutos angariou uma verdadeira multidão, atraída pela excentricidade do que acontecia na tenda. Estima-se que 75% do público daquele dia do festival tenha se aglomerado para ver a grande revelação da programação.

Um misto de música, artes cênicas, plásticas, coreografia e literatura fisgou a grande maioria do público. Paula Pirandelli, estudante de publicidade, assistiu toda a apresentação e afirma que possui um novo ídolo. “Foi algo único, o jeito como ela se movia e recitava aquelas palavras deixou todo mundo de queixo caído. Eu tinha ido até a tenda menor para ver a exibição de um curta de um amigo e resolvi o show seguinte, e para mim foi o melhor que vi até agora”. Para o redator Tiago Orno, a mensagem que ela passou é exatamente o que a juventude buscava no festival. “Foi incrível como ela traduziu em arte aquilo tudo que a nossa geração tinha de carência. As imagens e as cores mostraram um novo elo de ligação sustentável entre nós e o planeta. Me senti parte de algo maior”.

Ainda não é confirmado, mas rumores indicam que a gravadora Banner Wros já estaria sondando a artista, com um contrato prevendo gravação de álbuns, DVDs e patrocínio de apresentações. Nazaré de Jesus deixou o local do show logo após a performance e quando procurada não retornou ao contato da Gazeta Pueril.



Portal Galerinha Jovem e Descolada – maio de algum ano + 1

Nazaré de Jesus: a porta voz da nova geração.

Cáso Hic

Desde aquela histórica apresentação no segundo dia do Avant Garde SWO, a artista Nazaré de Jesus se tornou o estandarte não só dos jovens, mas de todos os que desejam mais poesia em suas vidas. Acostumada com pequenos pubs e espaços alternativos para suas performances, agora o novo baluarte da cultura brasileira está experimentando a atmosfera de grandes teatros, mega stores e até mesmo estádios. E a aprovação do público é instantânea, com lotação máxima em todas as datas. Como aconteceu esta noite no estádio Pacaembú. Mais de 300 mil pessoas se amontoaram para assistir o que tem sido chamado, por público e crítica, como a nova aliança entre artes e vida.

Segundo o crítico de arte Gerard George, o fato da performance de Nazaré ocupar até mesmo sua vida fora do palco rendeu a ela uma unanimidade entre os adolescentes e jovens adultos. “(Ela)é sem dúvida um novo arquétipo da arte. E o fato dessa verdadeira vanguardista ser brasileira nos deixa atônitos de orgulho. Em suas declarações e postura fora dos palcos, fica claro que a mensagem na sua produção não é restrita ao espaço lúdico de uma exposição. Ela vestiu os anseios do ultrapostmega modernismo, e isso faz com que o seu público - considere-me dentro desse grupo - a veja como uma divindade”.

O ponto alto do show foi a multiplicação holográfica de espécies de fauna e flora em extinção, com uma reprodução da Capela Cistina ao fundo, e acompanhada pelo grande hit musical da artista, Bem Aventurado Sejam os Mortos.

PS: A saga de Nazaré de Jesus no circuito mainstream continua no próximo post...

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Trecho de Warren Ellis ensina a roteirizar




"Tranque seus gibis num armário por enquanto. Você vai à biblioteca. Não se pode aprender a escrever lendo gibis. Você vai ler alguns livros de verdade por enquanto. Assim é como todo escritor que conheço aprendeu a escrever: estudando grandes escritores e aplicando as lições aprendidas para seus próprios interesses e objetivos. Você não conseguiu Alan Moore sem Thomas Pynchon, você não conseguiu Eddie Campbell sem Henry Miller, nenhum Grant Morrison sem William Burroughs. Olhe o modo como escritores sérios estruturam suas histórias. Olhe o modo como apresentam o diálogo. Olhe os efeitos que eles conjuram, e esquematize como eles fazem isso. Fique um tempo com Dickens. É, é, eu sei. Cale a boca. Ele tem aplicação especial nos Quadrinhos, porque Quadrinhos ainda são uma forma seriada, e Dickens é o escritor da língua inglesa mais eficiente neste formato que já existiu. O ponto é: entenda como os meninos e meninas grandes colocam palavras juntas no Mundo Real. Ache o que você gosta. Encontre o que funciona para você. E traga isso de volta.
Agora você pode desenterrar seus gibis de novo. Porque você vai destruir suas chances de jamais ter um simples divertimento com eles de novo. Você vai se sentar com aqueles que acha que são realmente bons e vai rasgá-los para descobrir o que está dentro deles. Frank Miller não conseguiu ser Frank Miller até que rasgou e abriu Will Eisner e Johnny Craig e Bernie Krigstein e todas as outras malditas coisas em que ele colocou suas mãos – e descobriu como funcionavam. Você vai ler e apontar e anotar e olhar fixamente pra essas coisas até nunca mais querer vê-las de novo (o efeito se desfaz em uns dez anos).
Você no momento tem quatro ferramentas-extra disponíveis consigo. E pode se considerar sortudo pra cacete por tê-las, porque elas não estavam por aí quando eu era um garoto, vivendo numa vala ao lado da estrada.
São livros". fonte (http://opusdeyvid.blogspot.com/)

quinta-feira, 16 de junho de 2011




O trem ganha velocidade,
Os olhos se cerram,
O caos emerge,

A fumaça expele cânticos de dor,
Uma lágrima é derramada,
Os oceanos se formam e fluem em seus leitos,

Almas são despejadas no forno,
Uma lufada de vento bate no seu rosto,
Correntes de ar se avivam,

A locomotiva se aproxima do túnel,
Um passaro canta em seu ouvido,
Homens e animais crescem,

O bólido não passa pelo outro lado,
Os olhos se abrem,
A luz consome tudo em uma epifania desmemoriada

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Um pezinho de seis dedos

Havia decidido, e confesso não saber ao certo a origem dessa extravagância, que minha próxima namorada deveria ter seis dedos. Tudo começou pela minha obsessão por pés femininos. Após muitos footjobs, pisadas no saco escrotal por pés de salto alto, e outras tantas bizarrices sexuais que pratiquei com mulheres que conheci na internet, essa ideia brotou em minha mente, linda e fétida, como uma flor de merda: sim, minha próxima namorada deveria ter seis dedos... no pé esquerdo, de preferência.

Não demorou muito até conhecer Tatiana. Foi através de um anúncio estapafúrdio em um site de encontro de casais que tudo começou... Tatiana, devo fazer aqui uma ressalva, era portadora da Síndrome de Down e, como muitos portadores dessa alteração cromossômica, tinha aquilo que os médicos relatam como "libido exarcebada". E claro, seis dedos, mas no pé direito.

Éramos um casal feliz e seu sexto dedinho era uma das coisas mais lindas que Deus já pôs nessa terra. Passava horas acaraciando aquele mindinho retardado, beijava-o, fotografava-o, observava-o com ares de um homem verdadeiramente apaixonado.
Os pais de Tatiana aprovaram logo a relação. Era um casal de velhinhos: a mãe, obesa e profundamente religiosa, dizia que era obra de Deus: o destino, a mão divina havia me colocado no caminho de Tatiana; o pai sofria do mal de Alzheimer e passava os dias sentado em uma poltrona da sala, o olhar vazio mirando o infinito...

Aos domingos íamos ao parque do Ibirapuera, tomávamos sorvete, um lindo casal de namorados, e, ao chegar em casa, eu era obrigado a fodê-la por trás quatro, cinco, seis vezes por dia - era a tal da "libido exarcebada"... Tati era uma figura e tanto. Após alguns beijos, uma troca exagerada de saliva, a língua frenética como um peixe fora d'água, ela simplesmente abaixava a bermudinha tactel e pegava na minha pica como se fosse arrancá-la. Durante certos rompantes de alegria mongoloide, na tentativa de acalmá-la, eu era obrigado a introduzir-lhe dois ou três dedos no ânus. Era uma vidinha feliz a nossa, apesar das emoções extremas da minha "retardadinha" (sim, nós também tínhamos nossos apelidos amorosos).

Não me lembro bem quando as coisas começaram a perder o controle. Provavelmente foi depois que apresentei o paraíso e o inferno das drogas para Tati. Começamos com uns baseadinhos, umas carreirinhas de cocaína aqui e acolá, umas pedrinhas de crack nos fins de semana e, de repente, Tati começou a ter certas atitudes que, a princípio, pareciam apenas extravagâncias de sua síndrome - às vezes, após uma boa foda por trás, ela defecava no lençol da cama, embalava o troço num pedaço de jornal, fazia-o nanar nos braços, "meu filhinho, que bonitinho...", e guardava aquela porcaria dentro da gaveta do armário; em outras ocasiões, louca de crack, aparecia nua na sala com uma abobrinha enfiada no reto e vomitava sobre o velho pai esclerosado - a mãe não lhe repreendia, pensando, de certo, em se tratar dos efeitos colaterais dos medicamentos que ela tomava por causa da síndrome.

Eu não me importava. Tinha aquele sexto dedinho só pra mim, podia acariciá-lo com a cabeça do meu pênis, segurá-lo entre o polegar e o indicador durante o programa Silvio Santos, lustrá-lo com minha própria porra, enfim, eu tinha uma namorada de seis dedos e a amava por isso.

Mas as coisas começaram a passar dos limites. Certa feita, durante um boquete, Tati mordeu minha glande com tal força que fui obrigado a dar-lhe duas ou três cacetadas na cabeça até que livrasse meu pobre membro daquela boca ensandecida - fui hospitalizado com uma hemorragia terrível e, por pouco, não me torno um eunuco.

Uma semana depois, e com quatro pontos cirúrgicos na ponta do cacete, estou sentado à mesa com Tati na praça de alimentação de um shopping. Espero ela terminar seu super Mc Fezes – sorri pra mim, dá gargalhadas, mastiga de boca aberta, enquanto o efeito do pó vagabundo que eu cheirei horas atrás se esvai, e uns pensamentos bem fodidos povoam minha mente em meio aquele ambiente de vitrines, perfumes enjoativos e idiotas andando em círculos.


Fico ali observando os cornos, as dondocas, os adolescentes estupidificados pelos playstations, pela música pop, pornografia digital e sei lá mais o quê, e me vem à mente esse pensamento sinistro que me ocorre com certa frequência: Um dia tudo será destruído. TUDO. O Universo em sua expansão morrerá aos poucos, estrela por estrela, ou retornará ao ponto inicial, segundo as teorias dos bandidos da Física moderna, enfim, tudo será destruído e nós estamos aqui nesse planeta, em pleno século vinte e um, passeando em shoppings, fazendo nossas preces antes de dormir, procriando a espécie, criando obras, e eu me pergunto: pra quê Beethoven, Dante, Michelangelo, tantas paixões, guerras, espaço-naves, tecnologia, exuberância natural, pra quê, se tudo no final se resumirá em pó estelar flutuando num gélido vácuo? Pra quê, porra?


– Vamos fazer umas compras, Tati?


– Peraí, deixo terminar a batatinha.

– Joga fora essa merda, vai! Vamos!

A atendente da loja de calçados femininos dá um sorriso artificial e caminha em nossa direção, lançando um olhar condescendente. Provavelmente pensa em se tratar de um papai e sua filhinha “especial”.

– Posso ajudar?

– Sim, me traga um par daquelas sandálias de salto agulha ali, outro daquele vinil cor de rosa e daquele verde plataforma... Ah, sim, ela tem seis dedos e calça... quanto você calça mesmo, Tati?

– 35

– Senhor, acho que nós não vamos ter esse número para aquele modelo...

– Foda-se. Traga 36 se não tiver...

Tati desfila de um lado para o outro, olhando com satisfação os pés no espelho. Seu sexto dedo reluz na sandália, adquirindo certo ar místico, meu Deus, tudo será destruído, sim, mas esse instante é eterno, caminhe, isso, aproxime-se, deixe-me ajudá-la a calçar esse aqui, isso, dá uma voltinha... estou hipnotizado e com o pau batendo no teto da loja, quando somos interrompidos pela atendente idiota de cinco dedos:

– Ficou muito bem nela! Quer experimentar esse anabela? É novidade... chegou esses dias na loja.

– Sim, sim. Pode trazer e embrulhar os outros, nós vamos levar...

Meia hora depois:

– Senhor, seu cartão deu um probleminha...

– Um probleminha? Você é que tem um probleminha. Olha pro seu pé, essa coisa horrorosa!

– Senhor...

– Cala essa boca e me devolve o cartão! Você devia se envergonhar por ter um pé tão feio, sua filha da puta! Vamos embora, Tati!

(Continua...)



Hamilton Fernandes

quinta-feira, 19 de maio de 2011





O cano gelado da arma , quando alcança minha cabeça, contrasta com o súbito aumento de temperatura no meu corpo, provocado pela adrenalina. O metal desliza pela minha têmpora, como a boca de um pai que beija carinhosamente seu pequeno filho. Eu olho a face do meu executor; eu nunca o vi na vida, mas isso não significa que eu não o reconheça. Em alguma profundidade obscura seu rosto está impresso em uma representação arquetípica. Acho que ele pertence a algum grupo de maravilhas criadas por Deus e não nomeadas a tempo por Adão antes da queda do Éden. Em qualquer momento anterior eu diria que se trata de uma máscara e não um rosto real; uma construção idealizada por algum criador de mitologias. Em qualquer momento anterior, mas não agora. Perto da face dele, é o meu rosto que recebe contornos de uma artificialidade vulgar, tal como um saco de supermercado com um desenho infantil de olhos, nariz e boca. Um olho cego, uma boca muda e sem paladar e um nariz deficiente de olfato. A arma é a mão de Jesus, o corpo pela qual a graça é transmitida pelo homem; enquanto o cano gelado pressiona minha cabeça eu tenho um pequeno vislumbre de tudo o que eu poderia ter sido e das sensações que meu corpo poderia ter experimentado. Por favor, não pense no executor como alguém que irá tirar tudo isso de mim! Ele não está tirando nada, está dando! Em algum ponto da minha história ancestral – graças a ele, agora sei que ando pela terra há tampo tempo quanto a Terra vaga pelo universo – perdi a capacidade de vislumbrar anjos dançando no céu a cada intervalo entre o inalar e o expirar de ar. O barulho da explosão da pólvora soa como um convite carinhoso para que o filho pródigo volte para casa. Mas não posso voltar para casa comprimido e limitado, tenho que voltar como sai: não como um, mas como o todo. Foi muito tempo brincando, muito tempo de faz de conta, muito tempo fingindo. As crianças imitam em uma experiência de enxergar o mundo pelos olhos do imitado. Eu não sou mais criança, já imitei uma....não sou mais adulto, já imitei um...estou cansado de imitar e de fingir, mas até então não havia percebido. Graças a ele, graças ao disparo, lembro da diferença entre ser e pensar ser. O segundo é uma caricatura grosseira do primeiro, pois não se pode ser enquanto seu foco está em pensar ser. O executor sorri e eu sorrio de volta, nunca vi e nem esbocei um sorriso mais sincero, é como se fosse a primeira vez que sorrisse, antes de ter matado o sorriso com um fingir sorrir. Engraçado é que ele vai me matar, mas agora ficaria aterrorizado se ele me deixasse abaixasse a arma e fosse embora. De qualquer forma, não se pode matar o que não vive. Entenda, isso não é uma carta e nem uma apologia ao suicídio, está mais para aquela sensação de liquefação da mente em um tanque de sonhos. De qualquer forma, espero você lá.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Necessidade de morte




Todo homem, pelo menos uma vez na vida, devia presenciar e, de certa maneira, sobreviver ao seu próprio funeral. O medo desperto quando esse tema vem à tona revela a imaturidade e a consciência inferior da maioria dos indivíduos civilizados O fato de se resignarem quanto a um braço ou uma perna amputados em prol da saúde do resto do corpo é irrelevante e não demonstra muita sabedoria, visto o afinco com que se apegam a valores putrefatos e corroídos pela mais perniciosa e mal cheirosa gangrena. O tecido podre dessas abstrações têm poderes consideráveis, pois não existiam na natureza antes de serem idealizadas pelos homens, e, portanto, transpuseram o plano de onde são concebidos os erros e penetraram na terra violentando-a. Aceitar perder um membro real de seu corpo e se agarrar a uma ilusão transmutada em divindade revela graves danos neurológicos.

Os pragmáticos e céticos zombam da adoração de vacas na Índia e da meditação em homenagem a água ao mesmo tempo em que se ajoelham, oram e aceitam submissão aos seus deuses do sucesso e fama, nos mais variados e ostensivos templos já vislumbrados no planeta. Geralmente, são torres mais altas do que a de Babel jamais sonhou em ser, e deu seu topo esses fiéis se deliciam provando de iguarias raras e de poderes de mutação da realidade. E a todo momento ligam em tomadas seus artefatos que incessantemente disparam em código numérico os novos mandamentos do inexistente transformado em deus. Essas palavras sagradas são vomitadas de forma aleatória, e ao mesmo tempo seus profetas compram, vendem, roubam, estupram e matam para que os dígitos dessa escritura permaneça infindavelmente alto. Ao que parece, o mercado financeiro é uma divindade extremamente exigente nos tributos prestados sob a forma de sacrifícios.

Essa mitologia, não obstante, é inegavelmente coxa. Diversos são os espaços vazios remanescentes quando é sobreposta ao espírito do homem. Falta-lhe a experiência da queda, e nisso deixa seus arautos despreparados. Apesar de pregar o tempo como linha reta, cujos segmentos anteriores são sumariamente esquecidos, o cair já alcançou essa crença torpe. Em 1929, quando os homens dos altos templos sentiram-se abandonados por seu deus, puseram-se a experimentar a queda, um a um atirando-se dos picos dessas construções, como anjos caídos desprovidos de seu teor transcendental.

Apesar disso, apagaram essa memória traumática e nem ao menos se despuseram a utilizar da suprema dádiva da morte: o subsequente renascimento. Seus dogmas tortuosos e deformados baniram o ciclo e privilegiaram a seta. Cuspiram na face da mãe morte e ignoraram a comunhão que esse espírito materno propunha. Viraram os olhos para a possibilidade de seus corpos se fundirem a raízes, pequenos seres vivos e novamente adentrarem ao ciclo da vida de forma mais harmoniosa. De fato, recusam veementemente a comunhão. Raramente deixam seus pés descalços tocarem a terra e seus dedos sentirem a superfície das árvores. E como prova dessa prepotência, se dispõem a exterminar toda natureza em nome de seu abstrato deus. Trata-se de um culto suicida da maior inconsequência, louvando a anti-vida e a escuridão do nada, a única forma de paz que conhecem.

Todo homem, pelo menos uma vez na vida, devia presenciar e, de certa maneira, sobreviver ao seu próprio funeral. Devem enterrar suas partes podres e contaminadas, se descascar da pele asséptica e das crenças de destruição como objetivo final. Pelo contrário, devem louvar a destruição como primeiro estágio de ação da força criativa. Não devem temer a morte, pois ele é uma mãe caridosa que aperfeiçoa o defeituoso para um novo estágio de virtudes.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Caro Sr. Genésio,

Pelo presente instrumento venho aqui requisitá-lo a respeito de nossa jornada alcoólica na Rua Augusta às 23:00h desta sexta-feira, mesmo sabendo que a outorgante defecou nas nuvens de Urano e a frase precedente não faz sentido nenhum.

Ainda assim, gostaria de questionar-lhe sobre a contradição entre o conceito de liberdade exposto no inciso do caralho a quatro do artigo da puta que pariu o mundo, parágrafo 7.333.000.012, e o período que antecede a menstruação das senhoritas, e nossa própria parvoíce.

Não obstante a inexistência de Deus, e a lei intergaláctica que nos permite ir e vir a qualquer espaço-tempo desse universo absurdo, escolhemos, por livre e espontânea vontade, baseados em carnes vaginais, grilhões para o corpo e espírito.

Aduze-se ainda que falta um pouco de luz para a humanidade. As genitálias de nossa jurisprudência estão morrendo com as doenças de Vênus. É necessário retroagir.

Nada mais,

Thomas Vinilla

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

The Anvil was Forged In Fire





O documentário começa com pompa: Lars Ulrich (Metallica), Scoot Ian (Anthrax) e ninguém menos que Lemmy (na boa, se você não sabe onde o Lemmy toca pode parar de ler essa merda agora) rasgam elogios ao Anvil, um dos grandes expoentes do heavy metal na década de 80. Dizem o quanto o Anvil era bom, inovador e absurdamente pesado na época, e como influenciou quase tudo que se fez sob o nome metal de lá para cá. E a pompa acaba por aí, nada mais de utopia do showbizz, vidas de rockstars ou qualquer outra merda que seu cérebro comprou da indústria musical. Sem exigências megalomânicas, nem seguranças ou calçada da fama. Deve ser por isso que eu gostei tanto de The Story Of Anvil (2009), dirigido por Sacha Gervasi - que, antes de se tornar um nome respeitado em Hollywood e ter seu nome nos créditos de filmes estrelados por gente como Tom Hanks, foi roadie da banda em seus primeiros anos.
São quase 90 minutos ao redor da dupla Lips (guitarra/vocal) e Rob Reinner (bateria), juntos desde os 14 anos, quando prometeram tocar para sempre o tipo de música que gostam. São 30 anos de banda; mas não só isso, são 30 anos de integridade, sem se vender e sem desistir por comentários desfavoráveis de gralhas auto intituladas críticos, produtores e executivos. Uma sequência que resume bem isso é quando os dois protagonistas vão até o prédio da EMI canadense, na esperança de encontrar alguém que lance o 13º disco do Anvil. Um engravatado resume: "são novos tempos, e o segredo é se encaixar dentro do que está acontecendo". Obviamente a reunião termina sem um contrato.
Entretanto, isso não faz a menor diferença. O Anvil não é uma banda do mundo encantado da música, é uma banda do mundo real, e isso transmite mais credibilidade do que qualquer viadinho empunhando uma guitarra e ostentando um moecano fashion. Lips e Reinner estão na faixa dos 50 anos, são pessoas de verdade e não apenas mais um bando de gazelas de 20 e poucos, mimadas e adoradas como nova salvação da música enquanto seus 15 minutos durarem.
Nada de jatinhos, nada de cachês milionários - inclusive, Lips ameça esmurrar a cara de um dono de uma casa de show em Praga quando este ameaça não lhe pagar um tostão. Nenhum público é pequeno demais, nem os cinco sujeitos em um show em Londres. Lips é motorista de um buffet infantil e Reinner trabalha na construção civil, além de ser um pintor amador. Mais uma vez, o documentário ganha por mostrar gente de verdade, ao invés de mitificar algum debilóide como é feito na maiora das vezes. Isso pega o espectador de jeito, pela honestidade, pela simplicidade e pelo descompromisso e a leveza de ser quem é, ao invés de bancar o rockstar intocável.
Enquanto bandas covers exalam arrogância insuportável, o Anvil em seus 30 anos não tem compromisso com status e fama; apenas com o compromisso de tocar o som que curtem. Assistam!
PS: dia 27 deste mês o Anvil toca em São Paulo, pela primeira vez. Imperdível!
http://www.youtube.com/watch?v=vkFStVl1B-4

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

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comi todos os diamantes
perdi um rim
pedras saem do meu pinto
testículos azuis de Júpiter
Netuno tem um rabo vermelho
uma bexiga humana de plástico no supermercado
um coração de metal no parque
melancias atômicas dos meus sonhos
explodindo nas junções

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Flores secas sob o Sol
O suicida está silencioso
O vento sopra
O burro zurra

Hamilton Fernandes / Ian Milne
2011 - fevereiro

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Coisas que só a mão invisível faz por você...





...te deixa puto quando você quer chegar logo ao jantar em que pedirá sua namorada em casamento, mas se atrasa quando trabalhadores, da fundição onde a aliança no seu bolso foi fabricada, tomam duas pistas da Avenida Paulista para protestar por direitos trabalhistas desrespeitados, mas previstos em lei.

...levam os funcionários de sua empresa a elegerem um governo mais preocupado com a questão social do que com a libertinagem do livre mercado. e isso tudo porque você desencanou de pagar horas extras, quando o governo anterior fazia vista grossa. ninguém mais lembra dos panetones do natal?

...puxa o seu tapete de especulador exportador se aproveitando da fragilidade da moeda nacional, quando coloca todos os grandes consumidores estrangeiros em estado de crise financeira. e agora, quem no Brasil irá comprar a produção de um latifúndio de soja?

...lhe dá uma bela dedada, quando você se da conta que seus lindos filhos, criados no cerne de uma família abastada, vão inevitavelmente jogar ralo abaixo todo o trabalho(?) de sua vida por terem sido educados no mundo cor de rosa da propaganda televisiva.