segunda-feira, 21 de novembro de 2011

22:40

Seus olhos guardavam uma serenidade inabalável. Inclinou levemente a cabeça para acender o cigarro e retornou ao horizonte do cotidiano sob a névoa de nicotina, observando tudo sem qualquer vestígio de inquietação. Dava goles esparsos e se deixava consumir em silêncio pelas euforias alcoólicas, enquanto abstraía todos os ruídos do mundo para se concentrar em uma única voz. Nada dizia. Escutava com um interesse sincero e raro, não permitindo ao interlocutor outra reação senão se apaixonar imediatamente por aqueles olhos.

Quando se punha a falar, as calçadas inundadas de bêbados juvenis se dissolviam com o barulho dos carros, restando somente a luz amarelada do poste a iluminar seus lábios finos. E logo, todos os sentidos se perdiam por entre as nuances da sua voz sem que qualquer palavra fosse esquecida. Era capaz de arrancar do coração um desejo pleno pela vida, desde que esta fosse preenchida com a sua voz, desde que as diversas manifestações do seu sorriso pudessem ser vistas todos os dias.

E no passar inebriado das horas, quando todas as paixões foram silenciosamente confessadas, deseja-se um único beijo antes que a noite a leve embora e a madrugada lhe corroa de saudade. Um único beijo para que toda a cidade tenha o seu perfume e os sonhos acordados dos dias seguintes durem até o próximo encontro.

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