segunda-feira, 28 de novembro de 2011

agonizando em dois cliques...



os vermes da realidade sintética estão irradiando larvas catódicas em meus olhos. os vermes adultos devoram meu cérebro e tomam seu lugar. e quando percebo, não tenho nenhum pensamento não relacionado a essa colônia infestada no meu crânio...
as companhias publicitárias estão planejando instalar outdoors oníricos nos sonhos das pessoas. por se tratar de um ambiente onde espaço e tempo são elásticos, afirmam que essa campanha pode se revelar de grande economia. portanto, pode ser que da próxima vez em que estiver sonhando estar voando, isso seja um oferecimento de alguma companhia de seguros...
2012 é ano de eleição. ouvi dizer que militantes usarão os cadáveres de seus entes queridos falecidos para expressarem uma fidelidade partidária post-mortem. o TSE ainda debate sobre essa prática ser legal ou ilegal, pois não havia jurisprudência sobre ela. os marketeiros não consideram viável a tática no corpo a corpo com o eleitor, mas vêem muito potencial em enquadrá-la na campanha audiovisual. os restos da vovó, com uma mensagem de força para o município com aquele candidato de imagem irrepreenssível e uma música estilo John Williams não têm erro...

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

22:40

Seus olhos guardavam uma serenidade inabalável. Inclinou levemente a cabeça para acender o cigarro e retornou ao horizonte do cotidiano sob a névoa de nicotina, observando tudo sem qualquer vestígio de inquietação. Dava goles esparsos e se deixava consumir em silêncio pelas euforias alcoólicas, enquanto abstraía todos os ruídos do mundo para se concentrar em uma única voz. Nada dizia. Escutava com um interesse sincero e raro, não permitindo ao interlocutor outra reação senão se apaixonar imediatamente por aqueles olhos.

Quando se punha a falar, as calçadas inundadas de bêbados juvenis se dissolviam com o barulho dos carros, restando somente a luz amarelada do poste a iluminar seus lábios finos. E logo, todos os sentidos se perdiam por entre as nuances da sua voz sem que qualquer palavra fosse esquecida. Era capaz de arrancar do coração um desejo pleno pela vida, desde que esta fosse preenchida com a sua voz, desde que as diversas manifestações do seu sorriso pudessem ser vistas todos os dias.

E no passar inebriado das horas, quando todas as paixões foram silenciosamente confessadas, deseja-se um único beijo antes que a noite a leve embora e a madrugada lhe corroa de saudade. Um único beijo para que toda a cidade tenha o seu perfume e os sonhos acordados dos dias seguintes durem até o próximo encontro.