terça-feira, 17 de março de 2009

O instante vazio

Guardou a bagagem, conferiu novamente o número da poltrona, olhou para os dois lados e sentou-se ao lado do namorado. Apertou sua mão esquerda e deitou a cabeça sobre seu ombro. Sussurrou algo em seu ouvido – ele pareceu ter sorrido –, deu-lhe um beijo e saiu do ônibus enquanto os últimos passageiros se acomodavam. Ele ajeitou os óculos escuros no rosto, inclinou um pouco a poltrona quando ouviu um estalo no vidro. Do lado de fora, a namorada sorria para si mesma, acenava e voltava a bater no vidro. O namorado virou-se para o vidro e acenou sorrindo para a namorada. Mas o ônibus já se movimentava e a namorada havia ficado para trás, deixando o aceno do namorado para uma senhora gorda, que esperava seu ônibus na ponta da plataforma e encarou o gesto com desconfiança. A noite é cheia de instantes vazios.

Nenhum comentário: