segunda-feira, 8 de junho de 2009

Eu me recuso a escrever um poema, seria ridículo. Finalmente o artista foi reduzido ao pateta, ao albatroz capturado, desengonçado na proa do navio (Baudelaire). Esta é a época do nada, do niilismo (século XXI). E se a poesia é resistência (Bosi), que comece então rasgando o discurso da propaganda, do design, que ela inspire os assaltantes de banco, os vagabundos, que ela vá para o deserto e para os planetas e para as estrelas e para a vagina, sem rimas, que ela dê saltos maiores que a leis da ciência permitem, que ela seja um peido na cara de Aristóteles, um haikai sobre os pássaros, os sapos e as cigarras que anunciam o fim de tudo...
Que se fodam as vírgulas e as aulas de literatura nas grandes universidades e as análises acadêmicas das obras dos grandes poetas e as futuras professorinhas de literatura. O inimigo não vacila. O inimigo está em todos os lugares, a todo momento, o inimigo é onipresente, o inimigo é o Deus que entrou pelo seu rabo e faz você acreditar que está velho demais para mudar alguma coisa, afinal não existe mudança, reze, faça uma bela oração agradecendo o seu salário mínimo, o ônibus lotado, as prestações da casa própria, do carro popular, a vida que passa e que a morte seja piedosa contigo seu filho de uma puta...
(Não se engane -- eu não estou cansado -- comprei um revólver calibre 32 hoje de manhã -- uma bosta, o projétil não atravessa nem um crânio humano -- assista a um filme pornô, veja como eles gozam... aquele orgasmo de plástico, aqueles gemidos falsos, aquela porra tão vazia como qualquer
cinemark, como o "eu te amo" que você ouve todos os dias...)

Notlimah Avlis

Imagem adulterada da Revista Leg Show, edição janeiro 2009, pág.49

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