terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Contemplação [introspecção]

Por alguma razão EU estou preso,
preso em um lugar fora e longe de você,
em uma bifurcação instransponível,
alguém que parece você me chama de ovelha no caminho da direita,
outro que também se parece com você ME chama de adversário no caminho da esquerda,
EU paro, e assim permaneço,
um corvo paira sobre a divisão dos caminhos,
voando em círculos, adentrando esquerda e direita,
espelhando ambos como insignificantes,
voa em frente pela direita, e a faz esquerda quando volta,
adversário e ovelha são um só,
fundidos na rubro e vertical olhar do pássaro,
um anão ME alcança na bifurcação,
vê MEUS pés atarracados na terra,
e a MIM parado olhando para o grupamento de árvores que divide a passagem,
ele se equilibra nas pontas dos pés e puxa MINHA camisa,
EU olho para baixo e vejo a palma de sua mão direita estendida,
ele me cobra sua porcentagem sobre os MEUS fracassos,
por que EU lhe daria qualquer coisa, mesmo uma parte de MEUS fracassos?
o pronome MEU pressiona minha cabeça, o suficiente para calar outras palavras,
calar MEUS sentidos, calar MINHA percepção, e MINHA empatia,
mando-o colher seus próprios fracassos,
ele balança a cabeça de um lado para o outro,
adentra as pequenas brechas entre as árvores,
quando não consigo mais vê-lo, ele me faz uma pergunta,
não ouço sua voz, não há som, mas a pergunta está cravada para todo lugar,
“Quando eu morrer no meio da floresta, o fracasso será meu por morrer, da floresta por me não me aceitar e me deixar morrer, ou SEU por não conseguir responder a pergunta?”,

EU vislumbro a ovelha e o adversário, eles me olham diretamente,
o corvo está longe, o anão se foi,
eu cuspo duas moedas de ouro no chão, e as enterro,
uma a MINHA esquerda e outra a MINHA direita,
sento e fecho meus olhos, e possivelmente não mais os abrirei,
não até a ovelha, o adversário, a estrada, a bifurcação, a floresta e EU sumirmos,
quando EU sumir, somem também MEUS fracassos, somem MEUS e EUS
só então haverá ação, uma ação baseada no estático,
os corpos param e os espíritos dançam,
há luz, há som, há tremores,
mas apenas onde não há nada

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