
Apesar de George W. Bush ter ido embora, Michael Moore está de volta, provando que sua produção não se resumia em uma perseguição pessoal contra o ex-presidente dos EUA. De certa forma, ao descentralizar seu alvo, o documentarista conseguiu criar uma crítica mais universal e mais mordaz sobre as injustiças sociais, como se observa em seu novo filme: Capitalismo: Uma História de Amor.
O filme estreia neste sábado (02/04) nos cinemas brasileiros, fazendo parte do festival de documentários É Tudo Verdade. Quem abriga a projeção é o Espaço Unibanco a partir das 19h.
Alvo maior
A história de amor, a qual se refere Moore, se dá entre a iniciativa privada, no caso os grandes conglomerados e os tubarões de Wall Street, e o governo americano, baseado em exemplos de promíscuas trocas de favores.
E não apenas os republicanos sofrem nas mãos de Moore, pois o diretor não poupa o público ao revelar uma verdadeira sucursal de Wall Street na Secretaria do Tesouro na administração Clinton. Isso sem falar na misteriosa adesão relâmpago dos senadores do partido, durante a polêmica aprovação do pacote de ajuda às empresas quebradas durante a crise econômica de 2008, contrariando a vontade popular.
Mas é impossível para os republicanos escaparem, já que a administração Reagan sofre uma verdadeira dissecação no filme, ao caracterizar o poder público como um artifício da vontade do capital.
Para quem sobra?
O mais importante aspecto do filme é mostrar que todo o ônus dessas artimanhas sobra para as massas, o povo, o americano médio. Desde os que hipotecaram suas casas convencidos por uma jogada bancária, transformados em novos sem-tetos, até famílias cujos parentes mortos aumentaram algumas cifras na receita das companhias em que trabalhavam. A coisa extrapola o absurdo quando alguns relatórios indicam que determinado empregado vale mais morto do que vivo.
A equação geral é: administração pública somada ao interesse privada pontecializada com forte propaganda institucional é igual a miséria da classe trabalhadora. E o pior, uma classe tão engasgada com uma ideia irreal do sonho americano e impossibilitada de sentir as mãos lépidas em seus bolsos.
Artifícios
Tecnicamente, o formato de Capitalismo segue semelhante aos dos filmes anteriores de Moore. Há muita coisa gravada in loco e dialogando o tempo todo com cenas arquivadas que receberam uma narração atual. A ironia reina o tempo todo, ainda que haja espaço para cenas dramáticas de teor bem mais sério. Algumas verdadeiramente comoventes.
No mais, é um filme digno de ser visto, concorde o espectador com Moore ou não. É um discurso muito bem construído e argumentado, cuja alguma crítica só poderá ser contundente com igual nível.
Portanto, simpatizar ou não com Moore é irrelevante e não se torna motivo para diminuir o valor do filme. Ou como disse Voltaire: "Posso não concordar com uma só palavra do que dizeis, mas defenderei até a morte vosso direito de dizê-lo".
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