
(CLIQUE NA IMAGEM E OUÇA ENQUANTO LÊ)
Enterrado em uma cova rasa, muito tempo depois de experimentar a morte, sete palmos de terra sufocam a única palavra que um cadáver enclausurado consegue dizer: “NÃO!”,
se o dinheiro dos vivos em deus confia, as moedas em minhas órbitas vazias tem a negação gravada no metal,
sou ligado ao mundo por um cordão umbilical podre, que me nutre de pústulas, gangrena e um laço mental verdadeiro de necro empatia,
posso sentir uma pomba branca assegurando mais uns dias de existência, ao se deliciar com as vísceras de um recém-nascido moribundo e abandonado em uma lixeira,
em algum jornal está a foto de Glória Esperanza, uma imigrante boliviana, violentada, mutilada e deixada para morrer na sarjeta, nos Campos Elíseos,
algumas páginas depois há uma reportagem sobre a epidemia de depressão e o aumento do índice de suicídio entre palhaços,
balançando a trinta centímetros do chão, com o pescoço num laço e com urina e excrementos vazando por suas pernas, está ela, que sempre se maravilhava ao dizer a alguém que tudo iria ficar bem,
o combustível da vida está se esgotando, e logo tudo o que sobrará serão resíduos venenosos dessa combustão fugaz,
uma lufada de vento arenosa e áspera sopra nos canos de uma fileira de baionetas presas à defuntos, produzindo no deserto o mais belo hino à escatologia inerente à existência ,
amantes, famílias, tribos, etnias e nações se ajoelham e praticam uns com os outros o rito ao deuses do Amorticídio,
o feto do novo século é batizado em sangue escuro e podre de próprio aborto, enquanto as pernas hemorrágicas de sua mãe tremem com a antena feita de um cabide desmontado entre elas, captando toda os bons presságios do futuro,
as cidades, em estado vegetativo, imploram por eutanásia e rezam fervorosamente para o suicídio nuclear do planeta,
os adultos infelizes passam por purgação, olhando álbuns de suas infâncias e confessando o pecado de usurparem das crianças nas fotos as chances de tudo o que elas poderiam ter se tornado,
daqui em diante o amor será apenas um neologismo de autoria publicitária, uma droga que mantenham os zumbis circulando,
o caldo da vida se tornou uma poça de água suja parada, apenas propício para a reprodução vermes e seres decompositores, atores do grand finale do nosso grand guignol.
Um comentário:
Porra vou acessat nesse blog à cada merda que me acontecer
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