sexta-feira, 29 de agosto de 2008

O Último Capítulo


estática de rádio AM...

ruídos da radiação cósmica de fundo...

sombras, Platão!

sim, um mundo de sombras

e mais sombras...

– quais serão suas últimas palavras quando tudo explodir?


no horizonte já é possível ver a grande mancha negra

alastrando-se pelo céu.

– esta é a noite, meu amigo!

a noite em que as peças desse universo-quebra-cabeça

serão novamente embaralhadas.


estaciono na estrada deserta que já não tem mais nome.

o último urubu em vôo suicida mergulha na terra como um míssil

– os pássaros estão mortos.

a Lua explodiu

e deixou os animais completamente confusos.

(e se Baleias fossem Cavalos

e se nós pudéssemos subir no lombo de Deus

e galopar?)


no começo era a Palavra...

e a Palavra será a última representação a desaparecer...

como serão as coisas quando perderem o nome?

veremos então a Verdade no último instante?

como as coisas realmente são?


não tenho medo,

– não tenho medo medo medo...

pela última vez existirá a palavra medo e então...

não tenha medo,

porque a dor será apagada

e não haverá mais

sangue, guerras, beleza, estética...

ou talvez haja Beleza,

mas não testemunhas...


– o poeta foi fundido no núcleo do Sol e há Luz,

Caos, Vida Multiplicável e o Grande Sono

e pela primeira vez tudo pode dormir em Paz.


vou sentir saudades da Música,

vou sentir saudades de um longo trago

e o gosto amargo da manhã na boca...

vou sentir saudades de sentir saudades...

por que esperei por algo que nunca poderia existir?

Existir...

O Verbo ainda existe...


Hamilton Fernandes

foto: SOHO



Um comentário:

Anônimo disse...

Carta para Saffuan


horas e horas de matemática
de calorias perdidas num subir de escadas sem fim
num descer à mil metros na crosta terrestre
levaram cálculos físicos ao nada, o cerne da questão
resumiram toda a problemática
de um Einstein confuso E=MC²
em uma fórmula básica
THC + LSD = LHC
para o choque das partículas

a gota amarga dos USA
e a paz dos campos europeus
foramserão uma viagem profunda
num mundo em desintegração

hamilton disse adeus*
e eu abro os braços
- curioso