sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Pasô - Cinema Poesia - Poesia & Cinema em Teorema


Há coisas que se vivem, somente; ou então, se insistim\os em dizê-las, melhor seria fazê-lo em poesia. Pier Paolo Pasolini


Teorema é história de uma família abastada industrial de Milão com a mentalidade pequeno-burguesa da vida que levam, pessoas comuns dentro dos valores e integradas à sociedade que vivem. O filme não segue o tempo cronológico e sim o tempo psicológico dos personagens, por isso, a primeira cena antes mesmo dos créditos é de um homem com seus quarenta anos dando uma entrevista para tentar justificar porque entregou sua fábrica ao controle dos operários e ainda é questionado sobre se o que ele fez é uma ato isolado ou uma tendência mundial.
Pasolini diz em entrevista á Jean Duflot: O cinema de autor é absolutamente uma criação individual. O número de colaboradores técnicos não modifica nada. A obra nasce sozinha. Não acredito, até hoje, em obra coletiva (1975: 46). Ainda mais nesse filme, que é sua ruptura e a obra em que ele coloca suas posições sobre os valores burgueses, religiosos, sexuais, ideológicos, familiares... essas questões permeiam toda a sua obra cinematográfica, teatral e poética em maior ou menor escala, mas de forma contínua.
Um jovem a parte dessa família chega para passar um tempo, dias, meses não se sabe, sua identidade, tão pouco; mas isso não importa, seus olhos, seus gestos e suas poucas palavras tem o papel fundamental de tirar cada indivíduo desse lugar do seu mundo, do automatismo de suas vidas. O sexo é nada mais que uma forma de subverter os valores, pela pureza dos olhos inocentes e verdes, onde os tabus são alheios porque apenas impedem a reflexão sobre si mesmo, e o caos, o propósito da vida e a amálgama de sentimentos contraditórios.
A visão do autor sobre a ideologia e os valores não é de quem julga ou quer impor-se sobre a própria interpretação da vida, é contra minha natureza profunda dessacralizar as coisas e as pessoas (1975:34), a discussão dos papéis sociais de cada um, Pai, Mãe, Filho, Filha e governanta são fragmentos e representações da cultura e da mentalidade pequeno-burguesa, o fracassado, a luxúria sublimada, a homossexualidade, a inocência perdida e a fé. A desconstrução do cotidiano, o encontro da consciência individual e a influência freudiana da obra na construção das imagens legam aos personagens fins ou a buscarem suas sombras, evidenciada pelas imagens do deserto, natureza árida e além do horizonte repetidas vezes como levando o espectador a ver que a busca está além das imagens cotidianas e das situações vividas.
Como poeta, inventando e experimentando imagens a passagem da literatura ao cinema, é apenas uma questão de mudança técnica (1975:25), Pasolini é antes de qualquer coisa artista e o meio em que se expressa leva-o a exploração das inúmeras possibilidade técnicas de expressão para inverter a ideologia e encontrar o caminho da diferença, para descobrir-se autor.
O milagre é a explicação inocente e primitiva do mistério real que habita o homem, do poder que nele se dissimula. (...) Em Teorema, despojado de seu caráter teológico, a revelação do milagre participa também da Magia.(1975:35). A poesia e o cinema, a arte é senão a alma do artista, do processo de auto-conhecimento e da vunerabilidade, expôr-se ao mundo pelo que se é, Pasolini fez em vida e vive em cinema.
O homem está nu de suas instituições, já não pode mais esconder-se, assim encontra a si mesmo. E caminha pelo deserto, entre consciência e loucura. FINE.

Um comentário:

Aninháh disse...

Marcelo... vc me falou do Saló e eu me lembrei desse texto que escrevi sobre o Teorema. Que tal vc escrever um sobre o perturbado Saló?
Bjo