segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008


Era tudo uma casualidade, ele dizia que me amava e enquanto isso ia criando cenas românticas, do tipo um belo beijo sob a chuva, e eu com a minha mania de atriz as interpretava pensando estar realmente tragando uma baforada de paixão. Beijava-o como quem beija o amado que regressa de longas jornadas, tocava o seu sexo com o olhar de uma Pomba Gira no ápice do prazer, passeava minhas mãos por sobre sua face como uma menina virgem que acaba de descobrir o amor e ele virava os olhos de prazer proferindo palavras banais e insinuando seu corpo para o meu vil deleite. E ele continuava dizendo que me amava e exigia que o fizesse também, mesmo estando exausta de proferir mentiras e frases decoradas criadas por ele a todo instante, pois bem, eu as proferia mesmo assim. Afinal, era eu mesma a prostituta que vendia meus sentimentos em troca de uma simples ilusão que nem sequer me era de posse. Por vezes deparava-me com o meu olhar molhado frente ao espelho e recordava os restos de minha alegria que caminhavam por baixo dos passos passados de um homem que tão longe de mim se encontrava, não tardava para nesses momentos insones de lembranças meu peito se encher de um misto nostálgico de emoção, fazendo rodopiar em meus devaneios imagens prazerosas de outrora quando ainda avistava meus olhos cobertos de paixão... Hahahaha... Oh! Que triste sina a minha de donzela abandonada! Mas as horas se passavam e tudo se findava, voltava a ser uma outra qualquer que um homem crendo ser amado a chamava de mulher... E novamente, quase que sem perceber, me encontrava coberta pelo cio translúcido da grande dama do céu, desnuda, escutando o crespo sussurrar dos gemidos daquele homem que na cama de mim se embebia, embebendo seu corpo ignóbil em suor e me causando náuseas com aquela face imunda de mancebo apaixonado. Já não mais residia em meu corpo chama aventureira de meretriz, tinha naquela cama a vestimenta moribunda da alma destroçada de uma péssima atriz.... E as paredes do quarto urinando em meus cabelos... E o riso sarcástico pintando o rosto das gavetas... E a porta fechada se masturbando com a maçaneta quase que se insinuando para o mudo criado... E a face... E a face imunda daquele mancebo apaixonado berrando em suspiros graves: "- Me ame, eu sou seu namorado!" Tudo, tudo ali me consumia, me engolia numa tragada e depois num soluçar gargalhado me vomitava... E a música... E a música dançando nua na vitrola tal qual irada Bacante bramindo na fogueira. Não era eu mais mulher, amante ou feiticeira, o corpo que jazia ali era o corpo da própria tristeza...

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